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Bruno Máriston o frasista poemático. Tecnologia do Blogger.

quinta-feira, 31 de março de 2011

Castro Alves (Navio Negreiro)

I

'Stamos em pleno mar... Doudo no espaço  

Brinca o luar — dourada borboleta;  

E as vagas após ele correm... cansam  

Como turba de infantes inquieta.





'Stamos em pleno mar... Do firmamento  

Os astros saltam como espumas de ouro...  

O mar em troca acende as ardentias,  

— Constelações do líquido tesouro...





'Stamos em pleno mar... Dois infinitos  

Ali se estreitam num abraço insano,  

Azuis, dourados, plácidos, sublimes...  

Qual dos dous é o céu? qual o oceano?...






'Stamos em pleno mar. . . Abrindo as vel

as  

Ao quente arfar das virações marinhas,  

Veleiro brigue corre à flor dos mares,  

Como roçam na vaga as andorinhas...






Donde vem? onde vai?  Das naus errant

es  

Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço?  

Neste saara os corcéis o pó levantam,   

Galopam, voam, mas não deixam traço.





Bem feliz quem ali pode nest'hora  

Sentir deste painel a majestade!  

Embaixo — o mar em cima — o firmamento...  

E no mar e no céu — a imensidade!






Oh! que doce harmonia traz-me a bri

sa!

Que música suave ao longe soa!  

Meu Deus! como é sublime um canto ardente  

Pelas vagas sem fim boiando à toa!






Homens do mar! ó rudes marinheir

os,  

Tostados pelo sol dos quatro mundos!  

Crianças que a procela acalentara  

No berço destes pélagos profundos!





Esperai! esperai! deixai que eu beba  

Esta selvagem, livre poesia  

Orquestra — é o mar, que ruge pela proa,  

E o vento, que nas cordas assobia...  

..........................................................



Por que foges assim, barco ligeiro?  

Por que foges do pávido poeta?  

Oh! quem me dera acompanhar-te a esteira  

Que semelha no mar — doudo cometa!



Albatroz!  Albatroz! águia do oceano,  

Tu que dormes das nuvens entre as gazas,  

Sacode as penas, Leviathan do espaço,  

Albatroz!  Albatroz! dá-me estas asas. 

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